Publicado em: 30/03/2023
No dia 28 de março, a TyQuant promoveu o debate “Como enfrentar o ciclo vicioso da água: escassez e abundância”. O evento abordou as tendências da Conferência da ONU sobre Água, as perspectivas para o cenário brasileiro e permitiu a discussão de diversos temas relacionados à questão da sustentabilidade hídrica.
O encontro reuniu especialistas que atuam em áreas nas quais a questão hídrica é fundamental:
Ricardo Young esteve na função de provocar a troca de ideias sobre diversos pontos relacionados à questão da água no Brasil e começou expondo algumas de suas impressões sobre a Conferência da ONU sobre a Água, da qual participou na semana anterior, em Nova Iorque: “Por mais que se fale de mitigação e adaptação, as mudanças dos regimes de chuva, a acidificação dos oceanos, a elevação do nível dos mares, a contaminação dos rios e lagos com pesticidas, a poluição dos corpos d’água com microplásticos e muitos outros fenômenos a que acometemos recursos hídricos não serão resolvidos nem no tempo, nem com mecanismos utilizados para o carbono”, apontou.
Young reforça que o tema da água só pode ser tratado de forma holística, colaborativa, integrada e planetária, e que é necessário reconhecer a urgência da sociedade se desdobrar ao imperativo de uma economia regenerativa, alicerçada em soluções baseadas na natureza.
A proposta inicial do debate se deu baseada no que já foi feito, o que está sendo feito e o que ainda é possível se fazer a favor da sustentabilidade hídrica – como sociedade, governo e, também, a partir de políticas públicas.
Sobre esse tema, os/as palestrantes trouxeram a questão do engajamento na luta para que esse recurso natural não seja destruído e, nesse sentido, é necessário que se supere o desafio da comunicação. Dal Marcondes, do Instituto Envolverde, comentou: “Precisamos do compromisso de engajamento com a comunicação, que é fundamental para que a gente consiga fazer com que, não apenas jornalistas e especialistas técnicos, mas as pessoas em geral trabalhem com o tema no dia a dia.”
Ainda sobre a importância do acesso à informação, os/as palestrantes destacaram o fato de que ela permite que pessoas possam também lidar com os impactos da crise hídrica ou, até mesmo, tomar providências antes que aconteçam.
Edson Lobato, do Instituto Conservação Costeira (ICC), trouxe a questão dos conflitos e dificuldades enfrentadas em fevereiro de 2023 no litoral Norte de São Paulo – quando uma chuva com previsão de 250mm chegou a 680mm, causando o desmoronamento de encostas e desabrigando diversas pessoas. Ele destaca que “É necessário um diagnóstico da situação de disponibilidade hídrica, em conjunto com os órgãos responsáveis, já que querem urbanizar, industrializar e promover o crescimento da região”.
Os diagnósticos de disponibilidade hídrica têm a função de direcionar o uso da água pela sociedade civil e órgãos públicos e possibilitar o acesso a essas informações que, como destacado por Dal Marcondes, são essenciais para engajar e conscientizar a todos e todas sobre usabilidade e valorização desse recurso.
Os/as especialistas seguiram debatendo sobre as formas de enfrentamento da escassez e abundância da água e apontaram que a universalização da água, possibilitando o acesso de todos e todas, a valorização do recurso, evitando desperdícios, e a reparação dos territórios para o tratamento da água podem mitigar o ciclo vicioso da água.
Malu Ribeiro, da Fundação SOS Mata Atlântica, também participou da Conferência da ONU sobre Água e trouxe para o debate o tema do direito de todos e todas à água limpa. A pesquisadora apontou os esforços durante a Conferência para que esse recurso seja reconhecido como bem comum. “O que nos motivou a estar lá, é que o Brasil aprove a PEC 6/21, que coloque na Constituição de 88 o acesso à água tratada, à água limpa como direito fundamental dos brasileiros e brasileiras”, disse.
A proposta de Emenda à Constituição (6/21) já foi aprovada pelo Senado e agora tramita na Câmara dos Deputados. Enquanto isso, 35 milhões de brasileiros e brasileiras não possuem acesso à rede de abastecimento de água, de acordo com dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS).
Apontadas como consequências das mudanças climáticas, a escassez e a abundância da água podem ter outras causas e também uma solução. Zezé Zakia, do Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais (IPEF), relata que o uso irregular e desvalorizado da água, como se fosse um bem infinito, é um precedente para a escassez. “Existe um momento em que a informação e o conhecimento viram um valor, mas temos uma rotina poderosíssima a ser mudada. Então temos que pegar uma rotina e transformar em um valor que nos faça mudar aquilo que está no piloto automático”, aponta Zezé.
No Brasil, quase 40% de toda água potável é desperdiçada, esse número seria o suficiente para abastecer mais de 63 milhões de brasileiros e brasileiras. Entretanto, o desperdício acontece na etapa de captação, o que significa que a água não chega até as residências.
Rinaldo Calheiros trouxe a iminência da escassez hídrica para o debate, questão já apontada no relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2023, em que 1,7 a 2,4 milhões de pessoas podem ser afetadas com a falta de água até 2050.
O professor enfatizou a necessidade de evitar, ou ao menos mitigar, esses efeitos com soluções baseadas na natureza: “A natureza não consegue cobrir o grau de degradação já causado e está exigindo que seja tomado um novo rumo”, afirma.
Para finalizar o debate, Simone Tenório, do Projeto Semeando Água – Sistema Cantareira, apontou a crescente abordagem sobre economia regenerativa e planos de ação sobre a água. Porém, enfatizou que a linguagem adotada ainda não alcança a todos e todas, sendo necessárias estratégias integradas que atinjam escolas, pesquisas e outras partes interessadas.
Simone, que também é pesquisadora do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), reforça o trabalho com os pilares da sustentabilidade: o ambiental, o econômico e o social: “A gente fala sobre a má prática de uso do solo, mas o produtor rural não tem acesso. Temos uma lacuna gigantesca”, aponta.
Para restaurar o que já foi afetado é preciso atuar em conjunto, de forma multisetorial, com os pequenos produtores e as grandes indústrias, visando que todos e todas tenham sua participação no desenvolvimento da bioeconomia local, explicou a pesquisadora.
No encerramento do debate, os/as especialistas responderam às rodadas de perguntas do público presente e também falaram sobre suas expectativas diante das futuras movimentações políticas.
A TyQuant, que promoveu o debate “Como enfrentar o ciclo vicioso da água: escassez e abundância”, é um sistema de inteligência aplicada que visa à produção de água, segurança social e hídrica de um território, por meio de análise, avaliação e monitoramento de corpos d’água.
Ancorada na experiência da Synergia, que atua em segmentos de mercados estratégicos para o desenvolvimento socioambiental desde 2005, a TyQuant se propôs a promover o debate sobre o ciclo vicioso da água, buscando colocar luz sobre a eficácia de uma Solução Baseada na Natureza (SBN), que é sua proposta estrutural. Sua modelagem supre uma lacuna de informações sobre a relação entre potencial hídrico, demanda e custo de reparação para propiciar sustentabilidade e segurança hídrica, alinhada aos parâmetros ESG (Environmental, Social and Governance) das organizações e aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU.
Maria Albuquerque, fundadora e CEO da Synergia Socioambiental, aponta os impactos positivos de uma solução como a TyQuant: “Estamos disponibilizando uma solução que inova as maneiras de tratar a questão da sustentabilidade hídrica, priorizando uma abordagem que parte do pressuposto de que as soluções baseadas na natureza são as mais eficientes para preservar e recuperar a água, recurso vital para a humanidade e para os ecossistemas.”
Confira, na íntegra, o debate “Como enfrentar o ciclo vicioso da água: escassez e abundância”:
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