Publicado em: 15/05/2024
O que está acontecendo no Rio Grande do Sul é uma tragédia sem precedentes. São, aproximadamente, 450 cidades afetadas, mais de 800 pessoas feridas, 147 pessoas mortas e outras 125 desaparecidas na maior tragédia climática do Rio Grande do Sul, de acordo com a Defesa Civil do estado.
O volume de chuva que atingiu o estado, a partir do dia 27 de abril, era o esperado para seis meses e trouxe comparações com as enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul no ano de 1941.
Na época, as chuvas iniciaram em 10 de abril e permaneceram durante 35 dias. A capital, Porto Alegre, teve 22 dias consecutivos de chuva e acumulou um volume de 619,4 milímetros de água. Em outras regiões o volume foi ainda maior, como em Santa Maria (905,3 mm) e Soledade (895 mm). Enquanto isso, o rio Guaíba atingiu o pico de 4,76 metros.
Agora, em 2024, o cenário foi bem parecido. Com pouco mais de 15 dias de chuva, Porto Alegre recebeu um volume de, aproximadamente, 530,4 mm, enquanto o recorde de volume foi registrado em Bento Gonçalves (835,4 mm) e Canela (812,2 mm). Já o rio Guaíba alcançou a marca de 5,33 metros, aumentando as áreas alagadas.
O estado do Rio Grande do Sul está localizado em um ponto de encontro de sistemas polares e tropicais, possibilitando a criação de um padrão que inclui períodos de chuvas intensas e também de seca.
Mas um relatório publicado, em 2023, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mostra que as alterações do clima provocadas por ações humanas e as fortes chuvas, como as observadas atualmente, podem tornar os eventos climáticos, ainda, mais frequentes.
Ao analisarmos o que está acontecendo no Rio Grande do Sul com um olhar mais detalhado para os aspectos ambiental e social, os números de 2024 se tornam ainda mais preocupantes. Isso porque, de forma geral, mais de 2 milhões de pessoas foram afetadas de alguma forma.
Desse volume, mais de 355 mil crianças e adolescentes, cerca de 48% do total de estudantes do estado, ficam sem aulas e mais de mil escolas foram afetadas pelas chuvas, de acordo com a Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul. Com isso, as aulas foram retomadas de forma online, para minimizar o impacto na formação dos alunos e alunas.
E com a previsão de continuidade dos eventos climáticos, cientistas apontam a retirada definitiva da população das áreas de alto risco e a criação de um planejamento como solução para não afetar a educação de crianças e adolescentes.
Outra frente que sofreu danos e que é extremamente necessária, principalmente para o atendimento das famílias afetadas, foi a área da saúde. Quase 10 hospitais ficaram inoperantes e mais de 160 unidades básicas de saúde (UBS) foram afetadas pelas fortes chuvas.
E por conta do grande número de pessoas expostas a diferentes vírus e doenças, a reconstrução do sistema de saúde deve priorizar a imunização das pessoas atingidas, apontam especialistas.
As fortes chuvas que atingem o Rio Grande do Sul têm causado estragos no meio ambiente, como o deslocamento e remoção do solo de determinadas áreas, causando uma redução do terreno.
Essa redução pode contribuir para o aumento das enchentes, que acontece porque as árvores e plantas desempenham um papel fundamental na estabilização e compactação do solo, e as suas raízes ajudam a mantê-lo firme e, assim, reduzir a erosão causada pela água da chuva.
Entretanto, a flexibilização das normas ambientais do estado, realizada nos últimos anos, pode ter impactado na dimensão dos estragos. No caso, houve também a flexibilização do licenciamento ambiental concedido às empresas, dispensando a avaliação dos órgãos ambientais.
Ao analisarmos especialmente os alagamentos, especialistas apontam que o replantio das áreas de preservação, como a mata ciliar a beira dos rios e as encostas dos morros, seria uma possível ação para reduzir os impactos das enchentes, por conta da capacidade de absorção das áreas florestadas.
Entretanto, o estado do Rio Grande do Sul teve sua área preservada da Mata Atlântica reduzida para 7%, até 2022 e mais de 1.100 hectares foram retirados da floresta.
Para além das ações específicas de prevenção e reconstrução, existem os planos de adaptação às mudanças climáticas, feitos em colaboração entre os órgãos públicos e privados, e a sociedade civil, com o objetivo de promover a redução das vulnerabilidades do país às alterações climáticas.
Inclusive o Plenário do Senado tem avaliado um projeto de lei para estabelecer as normas para criação de planos de adaptação às mudanças climáticas, que inclua a criação de recursos socioambientais, econômicos e financeiros, que possibilitem a integração das estratégias, locais, regionais e nacionais.
Pelo projeto de lei, os planos das organizações públicas devem conter medidas para integrar a gestão do risco e as estratégias de desenvolvimento local, estadual, regional e nacional. Além disso, a adaptação deve estar relacionada aos planos de diminuição da emissão de gases de efeito estufa.
Caso o projeto de lei seja aprovado no Senado, a proposta será novamente analisada na Câmara dos Deputados. E então, os munícipios terão que buscar alternativas para a elaboração e execução dos mesmos.
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