Publicado em: 28/06/2023
A saúde da população LGBTQIAP+ passa por um constante descaso quando consideramos que poucas pesquisas e análises têm identificado membros e membras da comunidade. Além disso, a falta de informação gera uma dificuldade de acesso em outros serviços essenciais de direito – como a educação e, até mesmo, o acesso ao mercado de trabalho.
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) realizou em 2019, pela primeira vez, a Pesquisa Nacional de Saúde: Orientação sexual autoidentificada da população adulta, onde 1,2% da população se declarou homossexual e 0,7% se declarou bissexual. Entretanto, no caso das pessoas homossexuais, a pesquisa não distinguiu o percentual de gays e lésbicas.
A pesquisa apontou, ainda, que 1,1% da população declarou não saber sobre a sua sexualidade e 2,3% das pessoas se recusaram a responder. A conclusão trazida pela publicação foi de que tais dados podem estar associados ao fato de que as pessoas ainda não teriam conhecido a própria sexualidade.
Em uma versão mais assertiva, pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina de Botucatu, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em 2021, contabilizou a quantidade de pessoas transgênero ou não binárias no Brasil. O resultado apontou que quase 2% da população brasileira se declara transgênero ou não binária, o que representa 4 milhões de pessoas.
A partir dessas recentes pesquisas têm sido possível ter um olhar mais detalhado e cuidadoso para criação de políticas públicas e ações que atendam os cuidados com a saúde da população LGBTQIAP+.
Como forma de atender a essa grande parcela da população e promover acesso aos serviços básicos essenciais, existem políticas públicas que, aos poucos, têm alcançado a comunidade LGBTQIAP+.
A Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais, criada em 2011, possui uma série de estratégias e metas para as gestões federal, estadual e municipal a fim de promover o acesso igualitário da população LGBTQIAP+ ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Mas a aplicação da Política Nacional ainda enfrenta barreiras para avançar, como o preparo de profissionais. Uma pesquisa realizada pelo Hospital Albert Einstein, pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade de São Caetano do Sul apontou que o acesso à saúde é mais difícil para pessoas da comunidade LGBTQIAP+ com 50 anos ou mais.
A pesquisa apontou discrepâncias nos percentuais de exames realizados entre pessoas heterossexuais e pessoas LGBTQIAP+. Mais de 70% das pessoas heterossexuais entrevistadas para a pesquisa já realizaram exames preventivos para câncer de colo de útero. Já o percentual de pessoas LGBTQIAP+ que realizaram o mesmo exame não chega a 40%.
Os/as pesquisadores/as apontam que os dados são resultado de estereótipos que limitam os cuidados da comunidade LGBTQIAP+ a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Além disso, o medo do preconceito impede que parte da população faça acompanhamento e exames regularmente.
Por isso, tem sido fundamental a capacitação de profissionais da área da saúde para acolher e tratar devidamente a comunidade LGBTQIAP+. O assunto, inclusive, tem ganhado espaço nas universidades, permitindo uma formação mais abrangente de profissionais – que ao chegarem aos hospitais e unidades de saúdes, estarão aptos e aptas para cuidar da saúde da população LGBTQIAP+.
Cadastre-se e receba nossas novidades.