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Elas Transformam: Mulheres pela Sustentabilidade

Publicado em: 07/03/2024

Elas Transformam: Mulheres pela Sustentabilidade

O tema “sustentabilidade” está em alta. Mas você conhece/reconhece a importância da atuação das mulheres pela sustentabilidade?

No Mês da Mulher Synergia 2024, celebramos as realizações e reafirmamos a importância não apenas das conquistas diárias frente a tantos desafios que, infelizmente, ainda são impostos pela sociedade, mas destacamos também o engajamento delas nas questões que podem ser definitivas para o futuro de todos e todas nós.

Elas Transformam: Mulheres pela Sustentabilidade”, a campanha deste ano, vem para demonstrar a força e o protagonismo que as mulheres estão assumindo frente ao desenvolvimento sustentável, principalmente no que se refere às questões ambientais, sociais e de governança – da sigla em inglês ESG (Environmental, Social and Governance).

Na campanha passada, “Justiça Climática Por Elas”, buscamos demonstrar que a justiça do clima é feita também por mulheres e para mulheres – evidenciando como os impactos das mudanças climáticas atingem principalmente mulheres e meninas em situação de vulnerabilidade.

Desta vez, queremos mostrar como a atuação das mulheres pela sustentabilidade já está fazendo a diferença para mudar o cenário atual e melhorar as perspectivas de futuro para a sociedade.

Por isso, ao longo deste mês – em atualizações semanais, aqui na página da campanha e nas redes sociais da Synergia Socioambiental – você vai conhecer mais sobre o papel feminino em cargos de liderança em setores de impacto social e ambiental, a trajetória e os desafios para se alcançar esses cargos, entender o valor das mulheres nas ações de regeneração e ficar por dentro das contribuições femininas para um mundo mais sustentável.

 


No caminho para a sustentabilidade: como a inclusão e oportunidades iguais podem mudar tudo

Antes de falarmos sobre a chegada efetiva das mulheres em áreas de sustentabilidade e em seus cargos de liderança, é imprescindível abordarmos um tema que afeta a vida de todas as mulheres, independentemente de seu status, religião, trabalho, nacionalidade ou qualquer marcador social.

Algumas mais, outras menos, porém, todas as mulheres são afetadas diretamente pela desigualdade de gênero.

As disparidades atingem vários âmbitos. No trabalho realizado no Brasil, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que as mulheres recebem, em média, 22% a menos do que os homens, exercendo a mesma função, mesmo nos setores em que são maioria. Para as mulheres negras, os números são ainda piores: elas podem chegar a receber a metade do valor de salário de um homem branco no mesmo cargo. A igualdade salarial – independentemente de sexo, etnia, raça, origem ou idade – para pessoas que exerçam função idêntica e trabalho no mesmo valor, no entanto, é prevista em lei no país, desde o ano passado.

E vale destacar: a sociedade, como um todo, perde com a desigualdade de gênero. O Banco Mundial divulgou recentemente o relatório Mulheres, Empresas e o Direito, que demonstra como a falta de oportunidades e a disparidade em direitos, condições de trabalho e salários atingem não somente as mulheres, mas trazem impactos negativos para as economias dos países, inclusive os mais ricos. Ou seja, afeta a todas as pessoas.

Mulheres pela Sustentabilidade Foto: Adobe Stock
Fotomontagem da Synergia sobre foto Adobe Stock

Segundo o relatório, a eliminação da desigualdade de gênero poderia elevar o Produto Interno Bruto (PIB) global em mais de 20%, o que “duplicaria a taxa de crescimento global durante a próxima década”. O estudo considerou que reformas legais para a promoção da igualdade de oportunidades e a mudança de práticas e leis discriminatórias, que impedem mulheres de trabalhar ou de empreender em diversos países, seriam fundamentais, principalmente considerando categorias como remuneração, direitos parentais, proteção no ambiente de trabalho, acesso a cuidados infantis e segurança das mulheres.

No quesito empreendedorismo, por exemplo, o relatório do Banco Mundial apontou que, entre as 190 economias analisadas, somente uma em cada cinco adota “critérios sensíveis ao gênero em seus processos de aquisições e contratações públicas”, e estimou que, assim, as mulheres sejam “excluídas de uma oportunidade econômica equivalente a US$ 10 trilhões ao ano”.

Mas e as mulheres nas áreas relacionadas à ESG e sustentabilidade?

Antes de responder, vamos retomar o conceito de sustentabilidade definido pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1987, e que ainda é o mais utilizado: “Sustentabilidade é suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Ou seja, aqui, falaremos de uma área considerada essencial para abordar e tratar as questões relacionadas tanto à preservação ambiental quanto ao desenvolvimento social.

Considerando isso, podemos imaginar que seria uma área em que alcançar a equidade de gêneros para as mulheres fosse mais fácil, não?

Mulheres pela SustentabilidadeFoto: Adobe Stock
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Essa não é exatamente uma resposta simples. E, para respondermos, é necessário compreender a jornada necessária para a inclusão dessas mulheres no tema da sustentabilidade, e nas diferentes formas como ele pode se apresentar.

 


Onde estão as mulheres que você conhece?

Independentemente da sua identidade de gênero e área de atuação, você consegue parar neste momento e pensar sobre o seu ambiente de trabalho? Quais cargos ocupam as mulheres que você conhece? Quantas estão em posição de liderança? Como foram as suas jornadas e quais obstáculos tiveram que superar para estar onde estão?

As desigualdades reforçadas pela misoginia – a discriminação e o preconceito contra mulheres – desde os primeiros anos de vida, fazem com que meninas e mulheres estejam em desvantagem em relação aos homens. Quando consideramos marcadores sociais como cor, orientação sexual e classe, em comparação com homens brancos e heterossexuais, as disparidades se evidenciam ainda mais. No mercado de trabalho, isso não seria diferente.

Segundo o estudo Diversidade, Representatividade e Percepção – Censo Multissetorial da Gestão Kairós, divulgado em 2022, considerando dados de 12 estados brasileiros e do Distrito Federal, além de não estarem considerando as interseccionalidades, as empresas não estão trabalhando os marcadores identitários.

O censo – que considerou setores como Mineração e Metalurgia, Agronegócio e Automotivo, Mercado Financeiro, Atacado e Varejo – aponta que o Quadro Funcional das empresas brasileiras apresenta “majoritariamente a presença de homens (68%), brancos (64%), heterossexuais (94,6%), cisgênero (99,6%), sem deficiência (97,3%) e com menos de 50 anos (94,8%)”.  Ao abordar as Lideranças (nível gerente e acima), a totalidade é de “homens (75%), brancos (79%), heterossexuais (96,6%), cisgênero (99,3%), sem deficiência (97,3%) e com menos de 50 anos de idade (85%).

A macrovisão da demografia de diversidade das empresas, termo utilizado no censo, aponta apenas 32% de mulheres e 8,9% de mulheres negras no quadro geral; no quadro de lideranças, as mulheres são 25%. Já as mulheres negras encontram, aqui também, ainda mais barreiras para a ascensão no mercado de trabalho: representam apenas 2,6% das pessoas em cargos de gerência ou acima.

Elas Transformam: Mulheres pela Sustentabilidade três mulheres trabalhando
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Em pesquisa só um pouco mais recente, realizada pela FIA Business School, vemos um pequeno avanço: em 2023, as mulheres ocupavam 38% dos cargos de liderança no Brasil e representavam 43% do quadro de funcionários/as. Porém, é outro dado trazido por essa pesquisa que chama a atenção. Para os/as colaboradores e colaboradoras que participaram, mulheres são melhores gestoras, mais populares e confiáveis.

As pessoas entrevistadas também acreditam que “as mulheres valorizam 50% mais a proximidade do que os homens”, enquanto os CEOs foram avaliados como “mais conservadores e orientados para resultados”. Ou seja, mesmo no ambiente de trabalho, ocorre um reforço do estereótipo de gênero que coloca a mulher como a “cuidadora”, a que tem o olhar mais voltado para o próximo.

Quando olhamos para o mercado internacional, as desigualdades não são tão menores assim. No entanto, as disparidades parecem estar reduzindo, mesmo que lentamente. Em 2015, o New York Times publicou uma matéria que demonstrava como, entre 1500 empresas do Standard and Poor’s (S.&P.) – índice do mercado de ações com as maiores empresas do mundo – o número total de mulheres CEOs era menor do que o de homens chamados “John” na direção. Na época, entre os/as principais executivos/as, os dados demonstravam que, para cada mulher, havia quatro homens chamados “John”, “Robert”, “William” ou “James”. Apenas uma em cada 25 empresas contava com uma mulher no cargo de CEO.

Essa pesquisa foi atualizada recentemente e divulgada pela Bloomberg, que destacou como o índice atingiu seu ano de menor desigualdade. Em 2023, “o total de mulheres CEOs foi igual ao número de CEOs com nome “John” e “James”, foram 41 mulheres versus 41 homens. Neste cenário, as mulheres, finalmente, superaram qualquer nome masculino, e atingiram 13% de todos os novos cargos de CEO.

ESG e a transformação que vem delas

A diversidade de gênero tem sido apontada como fator diferencial para os resultados das empresas que a praticam. Segundo levantamento da Mckinsey, 55% das empresas com maior diversidade de gênero saíram na frente e entregaram resultados operacionais ou EBITDA acima da média da indústria, enquanto as empresas não diversas chegaram a apenas 29% do total.

Em diversos setores, as empresas que conseguem implementar a diversidade de gênero, têm se destacado em desempenho financeiro. E a adesão às práticas ESG também tem sido colocada como fator decisivo para a lucratividade.

Elas Transformam: Mulheres pela Sustentabilidade mulher negra executiva
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Um estudo realizado pela Bain, em parceria com a EcoVadis, revelou que o investimento em ações de sustentabilidade estava diretamente relacionado ao crescimento das empresas privadas avaliadas. E apontou, ainda, como as empresas com mais mulheres em cargos executivos apresentaram melhores resultados financeiros, associando a maior representação feminina em conselhos de administração ao desempenho até 25% maior do que a média, em termos de sustentabilidade. Ou seja, empresas lideradas por mulheres têm se destacado na implementação de práticas ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), que por sua vez, têm gerado valor para as empresas.

A pesquisa “A Liderança Feminina na Agenda Sustentável”, publicada na Revista GV Executivo, relacionou esse alto desempenho ESG à presença feminina e demonstrou que, mesmo que a sustentabilidade e a equidade de gênero ainda sejam desafios globais, as mulheres estão fazendo a diferença. Segundo os resultados da pesquisa, a inclusão de indicadores de gênero na análise ESG é extremamente importante, e o “recorte de gênero pode melhorar o impacto socioambiental das empresas no Brasil”.


Participação ativa na regeneração

Um estudo divulgado este mês pelo IBGE apontou que as mulheres dedicam quase 10 horas a mais por semana do que os homens aos afazeres domésticos e cuidados pessoais. Além disso, elas trabalham, em média, 2,3 horas a mais do que eles, somando trabalhos remunerados e o trabalho invisível e não remunerado – ou “economia do cuidado”, exercida majoritariamente por mulheres – que seria capaz de acrescentar 13% ao PIB do Brasil, se fosse contabilizado.

A participação no mercado de trabalho, segundo o IBGE, tem sido diretamente afetada por esse fator, fazendo com que a presença feminina seja menor: em 2022, a força de trabalho feminina, entre pessoas trabalhando ou em busca de emprego, era de 53,3%, enquanto a de homens era de 73,2%. As taxas pioram em relação às mulheres com filhos, e se agravam ainda mais entre as mulheres negras responsáveis por crianças de até 6 anos.

Ou seja, embora as desigualdades sejam visíveis, o trabalho da mulher tem sido essencial e de grande impacto nas famílias brasileiras. E não é diferente nos territórios, onde têm tido participação ativa na regeneração social e ambiental, principalmente em comunidades atingidas por desastres.

Mas, antes de falarmos sobre a importância da atuação das mulheres para a regeneração, vamos entender melhor o que ela significa.

A importância das mulheres para a regeneração dos territórios

A regeneração em um território, por exemplo, pode estar diretamente ligada à reparação dele. Se com a regeneração, buscamos a atuação em projetos para reconstruir a situação ambiental original de uma área, com a reparação voltamos o olhar para as ações que também incluem o componente social.

Lilian Veltman, Diretora Executiva de Estratégia e Inovação na Synergia Socioambiental, explica a regeneração sob a perspectiva da empresa: “Para a Synergia, a regeneração vem do equilíbrio da interação social e ambiental, e passa pelo fortalecimento das relações entre as pessoas e os ecossistemas onde elas vivem e atuam, para que se criem sistemas mais resilientes, mais equitativos e sustentáveis. Claro que isso só pode acontecer a partir de uma abordagem holística, capaz de lidar com os desafios contemporâneos, uma abordagem que reconheça a interconexão entre os sistemas sociais e ambientais”.

Mulheres pela Sustentabilidade Foto: synergia
Fotomontagem e foto: Synergia

Para Veltman, as ações de regeneração e reparação são importantes e complementares, além de não dependerem somente das pessoas de uma comunidade ou localidade, mas de ações conjuntas que envolvem uma gama muito maior de atores. Ela completa: “A regeneração, portanto, não pode ser restrita à reparação de danos, tem que criar condições para as comunidades e ecossistemas prosperarem, e juntos. Tem que promover a inclusão, justiça, engajamento comunitário, tem que criar oportunidades econômicas sustentáveis para reduzir as disparidades, para promover o bem-estar da sociedade, junto com a saúde dos ecossistemas. A regeneração socioambiental, portanto, não se limita a ações locais, ela exige mudanças sistêmicas em níveis bem mais amplos, que envolvem governos, organizações da sociedade civil e setor privado”.

A Synergia tem mulheres atuando diretamente nas frentes de projetos que apoiam e incentivam o envolvimento de outras mulheres com as ações em seus territórios – e os resultados deles demonstram a força e o impacto dessa atuação para todos de todas.

O Projeto-Piloto do Rio Mangaraí, por exemplo, conduzido pela Synergia no Espírito Santo (ES), teve grande sucesso ao focar na mobilização social e empoderamento das mulheres para as ações de Educação Ambiental na região. Assim, para atingir o seu objetivo inicial – fornecer dados e informações indispensáveis à preparação do Planejamento da Bacia Hidrográfica do Rio Mangaraí e do Plano de Ação para o desenvolvimento de estratégias socioambientais junto às comunidades – foi imprescindível para o projeto trabalhar o engajamento das mulheres locais, que construíram redes de apoio para a resolução de problemas em comum.

Mulheres pela Sustentabilidade Foto: synergia
Fotomontagem e foto: Synergia

Além disso, a iniciativa promoveu a discussão de gêneros e lançou visibilidade sobre a importância das mulheres para as suas comunidades e territórios, tanto do ponto de vista ambiental, quanto social e econômico. O reconhecimento não tardou a aparecer e os impactos positivos no território permanecem, principalmente entre a Comunidade Quilombola de Retiro, de onde era a maioria das mulheres participantes.

Em outro projeto de grande envolvimento das mulheres da comunidade, o Programa Geração, realizado pela empresa Porto Itapoá e conduzido pela Synergia, estimulou o empreendedorismo econômico e solidário principalmente entre as mulheres, em maioria responsáveis economicamente por suas casas, e possibilitou o aumento da renda das famílias em 21%. Ou seja, essas mulheres foram decisivas para ajudar a recuperação do território que, além de tudo, se encontrava em contexto pandêmico – e ainda serão importantes para a comunidade por muitos anos, por meio da transmissão do conhecimento adquirido.

Mais recentemente, por meio do Projeto Redes do Médio Xingu, uma de suas diversas iniciativas na Amazônia, a Synergia incentivou a participação das mulheres na regeneração do território a partir do apoio à cadeia produtiva do cacau, que impacta positivamente na geração de renda das famílias da Estação Ecológica Terra do Meio, e suporte à Rede Terra do Meio, a fim de promover uma estrutura comercial para atender a população local.

Além desses, a empresa deu apoio à Associação Agroextrativista Sementes da Floresta (AASFLOR), localizada em Uruará, e possibilitou, além da visibilidade e aumento das possiblidades com a produção artesanal de itens a partir de uma extração não agressiva da floresta e que respeita a prática da floresta em pé, a possibilidade de aprendizados, oportunidades e novas vivências para mulheres como Élida Silva Moraes, produtora associada da AASFLOR, que em visita a São Paulo, pôde ver de perto o resultado e conhecer outras perspectivas para o seu trabalho.

Mulheres pela Sustentabilidade Foto: synergia
Fotomontagem e foto: Synergia

Ao abordar a importância da mulher para a regeneração dos territórios e para a sustentabilidade, Bianca Gomes, Coordenadora de Sustentabilidade na Synergia Socioambiental, destaca como o envolvimento delas se relaciona e abrange diferentes contextos da atuação ambiental e social: “Por serem a parcela da população mais exposta em ambientes de vulnerabilidade, as mulheres também buscam por opções mais seguras, diversificadas e duradouras, que apresentem possibilidades de reaproveitamento, se possível. Também apoiam iniciativas locais que contribuam para economia e representatividade nas regiões onde habitam e/ou realizam suas atividades. E é esse entendimento sobre a importância da circularidade dos materiais e de seu valor agregado que torna a participação da mulher tão expressiva no processo de regeneração” aponta.

Bianca reforça, ainda, como a participação das mulheres nas decisões em seus territórios pode ser determinante para o desenvolvimento deles e para a diminuição das desigualdades: “Mulheres ainda não são a minoria nos altos cargos executivos, mas são protagonistas nos movimentos populares, nas associações de bases comunitárias e iniciativas de sustentabilidade socioambiental. Por reconhecerem o valor de recursos naturais e da aprendizagem coletiva em ambientes diversos, questões valiosas para a regeneração, contribuem para o enfraquecimento da economia linear – modelo predominante na sociedade por séculos, que culminou no uso excessivo de recursos e na desigualdade social, e que precisa ser substituído” afirma.


Ocupando espaços para fazer a diferença

Já vimos como as mulheres enfrentam diversos obstáculos, que podem atrasar suas trajetórias no mercado de trabalho em anos, em comparação aos homens. No entanto, oportunidades de crescimento e, principalmente, de liderança, têm surgido como resultado da luta, das ações e das cobranças por políticas de promoção da equidade.

A atuação de mulheres em setores que podem ser considerados essenciais para o desenvolvimento econômico do país, e que têm grande impacto no dia a dia de todos e todas – como na indústria, mineração e agronegócio, entre outros – tem aumentado. Mas ainda está longe de alcançar a paridade.

Elas Transformam: Mulheres pela Sustentabilidade
Fotomontagem da Synergia sobre foto Adobe Stock

Em estudo divulgado em 2023, com base em 2021, o Observatório da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que as mulheres ocupavam apenas 31,8% dos cargos de gestão na indústria do país. De forma geral, considerando a proporção média de homens e mulheres no quadro das empresas, eles ocupavam 75,1% das vagas, enquanto elas atingiam somente 24,9%.

A mesma pesquisa apontou que 6 a cada 10 indústrias brasileiras tinham programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero, e 61% das empresas participantes alegaram ter iniciativas há mais de 5 anos. Além disso, 77% das empresas têm política de paridade salarial. O preconceito e a cultura machista foram apontados como as principais barreiras na implementação das ações de igualdade de gênero.

Setores em busca de equidade

Alguns setores têm investido em projetos para ampliar e fortalecer a participação feminina, como é o caso do movimento Women In Mining Brasil – WIM Brasil. Contando com a participação de mineradoras associadas e apoio do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), o estudo divulgado pelo movimento traz panoramas atuais importantes para que se desenvolvam estratégias para o avanço das mulheres no setor, demonstrando o valor das práticas de diversidade e inclusão e impactando, ainda, no desenvolvimento de todo o segmento da mineração.

Em sua terceira edição, divulgada em 2023, o Relatório de Indicadores apresentou alguns dados importantes do setor:

  • “O número de contratações do sexo feminino subiu de 32%, em 2022, para 43%, em 2023.”
  • “No exercício de cargos de gestão, o índice de representatividade de mulheres é inferior em comparação ao de homens (27% da totalidade): registraram-se 24% de presença feminina à frente da alta gestão corporativa. Em 2022, o quadro era de 22%.”
  • “Apesar do aumento nas contratações de mulheres, o setor mineral enfrenta um desafio crítico: o turnover no ano de 2023 está em 32%, representando um aumento preocupante de 16 pontos percentuais em relação a 2022.”

Fonte: Indicadores WIM Brasil | Ano 3

O Plano de Ação para Avanço da Participação das Mulheres na Indústria de Mineração Brasileira, desenvolvido pelo movimento, tem se apresentado como uma importante ferramenta para que empresas implementem estratégias de diversidade e inclusão.

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O agronegócio é outro setor que tem incentivado a participação de mulheres para a inovação e o estímulo a um setor mais sustentável. Em 2018, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em parceria com a Bayer, lançou o Prêmio Mulheres do Agro, que já está em sua sexta edição. A premiação “busca reconhecer produtoras rurais que realizem uma gestão sustentável, com foco nos pilares de governança, social e ambiental”. Atualmente, a iniciativa é considerada uma das principais entre as de reconhecimento das mulheres no campo.

Outro ponto que merece destaque é o lançamento, em 2022, do Observatório das Mulheres Rurais do Brasil. A plataforma – iniciativa conjunta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) – reúne dados estatísticos que podem “nortear programas, ações e políticas públicas voltadas para a equidade de gênero no campo”.

Segundo a ONU, o projeto pretende dar visibilidade para essas mulheres, promovendo “oportunidades equitativas de desenvolvimento e inovação, participação plena, além de melhoria da qualidade de vida dessa população”, além de contribuir para o alcance das metas relacionadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS5) – que propõe, além do fim de todas as formas de discriminação contra meninas e mulheres, a igualdade de gênero e o empoderamento de todas.

No painel “Mulher e os vínculos empregatícios na agricultura em 2020”, disponibilizado pelo Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, é possível conferir os principais dados sobre as mulheres rurais em comparação com as mulheres da Indústria, da Mineração e do setor de Serviços. As estatísticas incluem a média de tempo de estudo (anos), a média salarial entre as mulheres dos 4 setores e a diferença salarial entre mulheres e homens, além de dados sobre a distribuição de cor, raça e faixas etárias entre os setores.

Mulher e os vínculos empregatícios na agricultura em 2020 Fonte: EMBRAPA. Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, 2022.

Clique na imagem e confira os dados completos diretamente do painel. Fonte: EMBRAPA. Observatório das Mulheres Rurais do Brasil, 2022.

A construção de espaços seguros para que as mulheres tenham oportunidades de inclusão, crescimento e equidade no mercado de trabalho tem sido feita de forma lenta, mas ela existe. Somente a união dos setores público e privado, aliados ao Estado e à participação ativa da população, pode mudar esse cenário e diminuir desigualdades.

Quanto mais mulheres tiverem acesso à capacitação e puderem alcançar cargos decisórios, principalmente nas áreas ESG – que podem definir aspectos essenciais para a sociedade – mais nos aproximamos de um futuro que traga conscientização e benefícios para todos e todas.

 

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